De Sofia Lopes
Editado por António Santos
Iniciado em novembro de 2022, Desaniversário é um projeto artístico multifacetado da autoria de Catarina Alhinha e Larissa Kansler que encontrou a sua casa numa rede social, o Instagram. Extremamente ambíguo e à espera de ser interpretado por cada “desleitor” que passe na página, Desaniversário tem raízes no livro de Catarina Alhinha com o mesmo título terminado em 2020, porém ainda por publicar. Juntando a literatura à fotografia, as artistas exploram diferentes temáticas de um livro omnisciente que está aberto à participação de todos.
Quem dá de caras com o vosso projeto e aprende que se trata de um livro está habituado, por norma, a ler uma sinopse. No vosso caso, o conteúdo do livro não está expresso em lado algum, permanecendo um mistério. Presumo ser algo propositado, não?
Catarina: Sim, foi uma estratégia nossa. Esta escolha está diretamente interligada com a própria interpretação do livro no geral. Este é um livro bastante peculiar, porque desconstrói a forma do livro tradicional. Nós não temos capítulos que se constroem em direção a um romance. Cada capítulo pode ter só uma linha. Os títulos não são numerados, ou seja, não há ordenação de capítulos. Para dar um exemplo, temos um capítulo que se intitula “Cena 1”, logo é um livro que traz uma parte teatral à própria estrutura. Na própria nomenclatura dos capítulos trazemos também nomes de personagens, como em “Um Capítulo dedicado ao Homem do Saxofone”. Toda esta originalidade na forma como quis construir o livro não dá azo a querermos fazer uma sinopse a quem chega à página, porque a sinopse poderia limitar a interpretação do mesmo. Este livro é tão denso e tão ambíguo que nós não queremos, de forma alguma, que um “desleitor” chegue à página e já saiba o que o livro é. Queremos manter esse mistério e que o “desleitor” comece pela fotografia que pretender, do início ou do fim, e comece a pensar por si próprio sobre o que é este livro, se é só fotografias… Por enquanto, queremos manter o mistério.
Como surgiu este projeto, ou seja, qual foi a fonte de inspiração que o fez brotar?
Larissa: Dada a dimensão artística e ambígua da obra literária, quisemos criar a partir dela vários projetos e uma obra multifacetados. O projeto Desaniversário, para além do livro, é também composto por uma exploração que parte dessa obra em diversos médiuns. Começámos por fazer uma exploração fotográfica, que também detém uma grande dimensão teatral. De igual forma, temos em mente, no futuro, explorar outros meios, como o vídeo e a pintura. É muito o que acontece na obra em si, porque todas as personagens têm uma essência própria, que é o que queremos transmitir na nossa página. Esta é uma das nossas motivações.
Catarina: Este projeto quer responder a uma necessidade de juntar estas áreas artísticas, porque, quando vamos ler um livro, este pode ser mais do que um momento de pausa de interpretação de palavras. As palavras podem chegar a muitas áreas artísticas. Acredito que o livro seja só o início e queremos mostrar que a literatura não é algo limitado, isto é, que não se fica só pelas palavras.
Larissa: Sim, queremos criar todo um suporte visual. Claro que tudo isto tem um pouco da nossa interpretação pessoal, principalmente da minha, mas o facto de utilizarmos estas ferramentas digitais permite também às pessoas interagirem e verem as coisas por elas próprias. É o que acontece muito nos comentários: as pessoas interagem, fazemos-lhes perguntas, temos uma certa voz que lhes fala e os espetadores absorvem de maneiras diferentes. Acho que é uma parte muito bonita do projeto.
“Desaniversário” está comumente associado a Lewis Carroll, o inventor do termo, e à Alice no País das Maravilhas, a sua obra-prima. Porquê este título? É meramente inspiração ou uma referência à obra?
Catarina: O termo “desaniversário” significa uma celebração de todos os dias do ano, como se estivesses sempre a celebrar o teu aniversário. Confesso que sempre gostei imenso do Lewis Carroll e que sou fã da obra, mas não há uma ligação direta do termo ao conteúdo da obra. Eu utilizo o termo com o sentido de querer usar essa dimensão de “todos os dias do ano”, porque a personagem principal vive intensamente cada dia como se fosse o último a nível artístico. Todos os dias, lida com artistas diferentes, de pintores a escritores. A personagem está em constante confronto com este mundo artístico e a tentar descobrir se realmente tem talento ou o que estará a fazer naquele lugar. Para acrescentar, o livro não tem um espaço certo, pois tento brincar com o espaço e com o tempo nesta intensidade, permitindo à personagem percorrer o seu aniversário todos os dias. O termo “desaniversário” é uma metáfora dentro do livro e, igualmente, creio que cada pessoa possa fazer a sua interpretação do título à medida que o lê, por exemplo, a Alice no País das Maravilhas pode fazer parte da tua interpretação, apesar de o conteúdo não ter nada a ver com a obra de Lewis Carroll. Quando eu e a Larissa lemos em conjunto alguns excertos, surgiu a necessidade de criar uma fotografia numa mesa com vários adereços de um salão de chá, como se este fosse do Chapeleiro Louco, mas isso é uma interpretação do livro e não uma associação direta dos eventos que ocorrem na obra. Esta é a magia do livro: não ter nada relacionado com a Alice, mas o conjunto de situações que acontecem lembraram-nos de montar uma foto que engloba metaforicamente vários artistas num Chá Louco que, de certa forma, simboliza essa dimensão artística caótica do livro.
Ainda em relação ao título, acompanhado do mesmo está - o que julgo ser - um subtítulo: “O Livro por publicar”. Em conversa privada contigo, Catarina, confessaste não ser por escolha própria a ausência de um livro publicado. O que te impede?
Catarina: Creio que vários jovens já passaram pela mesma situação que é, quando se trata de publicar um livro, o processo editorial não ser aberto a jovens sem nome. O que acontece é que, usualmente, na página das editoras, está um email geral. Muitos dos emails que enviamos com o manuscrito original não chegam a ser lidos pelas editoras, porque estas recebem centenas de originais todos os dias e o facto de fornecerem um email geral não facilita o acesso aos próprios editores, fazendo com que os jovens passem anos e anos a tentar publicar o seu livro, porque não têm uma cunha dentro das editoras. A expressão “O Livro por publicar" tem subentendida essa dificuldade com as editoras. Eu, Catarina Alhinha, não consigo publicar o meu livro, porque não me abrem as portas. As editoras, hoje em dia, dão preferência, principalmente, a influencers e chegam a pedir-lhes diretamente para escrever livros para, mais tarde, serem publicados, visto que têm interesse em que tenhas um Instagram conhecido com bastantes seguidores, pois sabem que irá vender. É comum exigirem-lhes que escrevam enredos de uma compreensão mais fácil – a chamada “literatura padrão” - pois o que se pretende é uma leitura rápida, já que vende mais. Este subtítulo é um pouco irónico e compreendo que quem chegue à página possa pensar um pouco sobre o porquê de este livro ainda não estar publicado. É a nossa intenção, não gostamos de explicar a história toda. Gostamos que a pessoa leia e pense o porquê de tal estar a acontecer. Estarmos a fazer isto no Instagram é, também, irónico, porque é esta a rede social que as editoras querem e que vêm como requisito.
Larissa: Acho que esta maneira de fazer as coisas é pouco explorada. Há muitos escritores que não exploram a literatura a um nível digital. Há certas editoras que já se baseiam nisso e que vão à procura de renome, de influência e impacto na sociedade. No entanto, creio que existem muitos escritores que estão a começar que não sabem como chegar ao seu público. Em vez de cair dentro da literatura padrão, criamos e expomos a obra, descobrindo o nosso público. Estamos a dizer “nós estamos a partilhar isto e a partilhar a nossa arte” e as pessoas sentem-se atraídas, caso gostem ou não. Acredito que seja algo difícil de fazer em suporte físico de livro. A criação desta galeria digital permite às pessoas ficarem a conhecer a obra e muito mais.
Catarina: Queria acrescentar que outro problema que se sucede é que muitas editoras exigem que pagues para teres o teu livro publicado. O que acontece é que, se não venderes os 200 exemplares da primeira tiragem, és obrigado a pagar de volta os que não conseguiste vender, num certo período de tempo. Isso é muito injusto, porque acredito que a arte merece não ter esses constrangimentos de estares dependente de arranjar dinheiro para publicar o teu livro. Deveria haver mais investimento nos escritores. As editoras deveriam ter o trabalho de procurar onde estão esses escritores qualificados, porque eu tirei um curso de literatura, tenho imensos colegas com talento e qualificação e é estranho como um curso de literatura não tem um espaço para publicar livros. As editoras preferem publicar autores sem qualquer formação linguística ou literária.
Mesmo não estando publicado em formato físico, o livro parece que vai sendo, aos poucos, publicado de forma digital na vossa página do Instagram. O que vos levou a escolher esta rede social para ser a predileta na partilha da vossa arte?
Larissa: Uma das razões foi a que a Catarina disse: as editoras preferem-na por ser aquela onde as pessoas conseguem ganhar mais influência. Achámos que o Instagram era uma das ferramentas mais utilizadas atualmente para divulgação de conteúdo, por isso, considerámos ser um bom ponto de partida. Outra razão é a própria dinâmica que a aplicação permite, já que nós, no Instagram, temos a liberdade de demonstrar a dimensão caótica do livro, onde não há uma cronologia bem definida. Temos a oportunidade de criar e, ao mesmo tempo, explorar, a partir de um meio fotográfico, essa partilha de excertos e adição de elementos paralelos à obra, como a criação da Voz – esta identidade parte da obra, mas não está relacionada diretamente com ela. Criamos toda uma atmosfera que engloba vários detalhes. Ainda no que toca à dinâmica, no Instagram, há a possibilidade de interação das pessoas com a obra e é isso que temos explorado recentemente. Os “desleitores” podem partilhar a sua interpretação e nós podemos explorá-la. A questão da galeria online é igualmente importante, pois lá as criações artísticas podem ser apreciadas.
Catarina: O mais importante é que nós não vemos o Instagram como uma típica rede social, mas como uma galeria de arte online, onde podemos expor o nosso trabalho de forma livre.
Larissa: Algo que também conversámos sobre é a questão da pausa que temos ao ler um livro. Atualmente, temos um menor tempo de atenção e se a página fosse só partilha de texto, se calhar não iria ter tanta aderência, porque, hoje em dia, tudo é muito rápido e pouco é o público que ainda dedica tempo e atenção a uma obra. O Instagram e as imagens permitem à pessoa ponderar e fazer essa pausa. A pessoa chega ao Instagram e vê uma imagem que em si desperta curiosidade e algum mistério, visto que não entenderá a fotografia à primeira. Isto faz com que a pessoa mergulhe dentro da visualização e, talvez, assim, aprofundar-se dentro do excerto. É tudo uma estratégia de aprofundação.
Catarina: Na minha opinião, as redes sociais limitam bastante a criatividade dos escritores. Uma das técnicas de marketing digital é publicar um excerto curto com palavras chamativas, porque, realmente, nos dias de hoje, as pessoas querem consumir algo rápido que não as faça perder muito tempo num post. A nossa ideia é fazer-vos sentir como se estivessem numa galeria de arte, onde podem perder algum tempo no texto. Temos recebido respostas não só da interpretação do texto, mas de “desleitores” que têm começado a escrever textos originais e a acrescentar enredo à história. Nós temos um link do forms em que podem deixar o email para, no futuro, receberem informações sobre o livro, quando este for publicado, e recebemos comentários incríveis em que começaram a fazer histórias em paralelo ao que leram no Instagram. Isto significa que houve uma pausa e que perderam tempo a interpretar a imagem e o texto.
As imagens que acompanham dizem, por si só, muito acerca da história de Desaniversário. Larissa, a Catarina contou-me que tu foste das poucas pessoas que leram o livro na íntegra e que as fotografias, totalmente da tua autoria, partem da tua interpretação pessoal face ao que leste. Como foi o processo criativo por detrás das mesmas?
Larissa: As fotografias que compomos consistem numa visualização daquilo que é o “desaniversário” cíclico, ou seja, uma interpretação dos vários dias que decorrem dentro da obra. Existe toda uma interpretação a nível de espaços, de personagens e de cor que emitem o clima sorumbático e imprevisível, ou seja, aquela questão da narrativa de estar sempre algo a acontecer de uma maneira mais ou menos absurda. O nosso objetivo é documentar de uma forma criativa o ambiente do palacete que existe na obra através de uma forma quase teatral. Esta é uma questão muito interessante do nosso projeto: nós temos imagens estáticas, porém todas envolvem um processo teatral, ou seja, em muitas das nossas sessões nós não pedimos aos modelos para posar, mas para representarem. Existe uma fase preliminar em que, tal como os “desleitores”, os modelos têm de mergulhar dentro da obra e criar uma personagem e a minha função é captar esses pequenos momentos que os modelos emitem de forma espontânea. Um exemplo é a sessão fotográfica da mesa, em que criámos um cenário, as personagens e dissemos para atuarem de acordo como a obra decorre. Fomos captando vários momentos que comprovam não só uma interpretação, mas um narrar da história. Acho que, por vezes, é literal, outras vezes não. Algumas das nossas referências foram a corrente surrealista, como René Magritte, Dwayne Michals e Helena Almeida. Dentro da fotografia, explorámos o storytelling, que é a criação de narrativas a partir de certos elementos visuais. Cada personagem da obra possui uma identidade indefinida, que se vai alterando e alternando entre outras. Mesmo assim, sabemos que todas elas têm sonhos e que querem criar. Nós, a partir das fotografias, tentamos criar retratos enigmáticos que demonstrem uma parte deles, como é o caso do Pintor. Temos várias sessões com o Pintor em que ele se pinta a si mesmo. Ainda não as divulgámos, por isso, isto é um pequeno spoiler [risos]. Em resumo, temos uma grande base performática no nosso projeto, mesmo que trabalhemos com imagens estáticas, o que é interessante. No futuro, estamos até a pensar incluir mais meios de apresentação, como vídeo, desenho e tudo aquilo que faça sentido dentro do mundo da arte.
Catarina: Só para acrescentar que gostei imenso de uma frase que a Larissa disse: “Não pedimos uma pose, pedimos uma atuação.”. Posar, no meio tradicional, pode limitar bastante a nossa fotografia, por isso, gostamos de trabalhar com modelos que são atores. Nós assumimos um pouco o papel de dramaturgos, porque estávamos sempre a dar indicações, como se fosse mesmo uma peça de teatro [risos]. Os modelos não chegaram à mesa que está na fotografia e sentaram-se. Fizeram mesmo aquecimentos teatrais, como os que se fazem no teatro, de forma a deixar todos confortáveis, e encarnaram a personagem ao sentarem-se na mesa.
Sendo agora um bocadinho mais cusca, qual é a fotografia preferida de cada uma? E porquê?
Larissa: Ora bem, isto foi algo que nós falámos, porque ainda não temos uma fotografia preferida [risos]. Temos muito conteúdo que está por publicar e há outros cenários pelos quais temos um afeto ou uma ligação emocional maior. Na minha visão, uma das minhas sessões preferidas foi a que criámos o cenário do chá, um bocado relacionado com o Chapeleiro Louco de Alice no País das Maravilhas, porque, para além de termos várias personagens no mesmo contexto, elas interagem entre si, o que foi bastante interessante de captar. Nós temos algumas imagens já no Instagram dessa sessão e creio que as imagens que têm esse tipo de atuação são as mais interessantes para mim, visto que, mesmo para um espetador que não tenha estado presente na altura da captação das fotografias, questiona-se sobre o antes e o depois. Não foi só um momento estático. Nota-se que nas fotografias houve uma conversa.
Catarina: Eu sou aquele tipo de pessoa que nunca teve um livro preferido. Não gosto de limitar o meu gosto a só uma opção. Então, a minha fotografia preferida seria aquela que não existe, isto é, aquela que ainda está por vir. Visualizo muito as nossas conversas e as nossas ideias em fotografias que estão por acontecer. Claro que adorei todo o processo e todas as fotos que já aconteceram, porém quando converso com a Larissa e vejo as ideias que estão a fervilhar sobre a próxima foto, fico muito entusiasmada. Para mim, a próxima foto é a minha preferida, porque é a que me dá mais emoção trabalhar no processo artístico para a criar.
Larissa: Certo. Quando combinamos com os modelos, temos uma reunião à priori em que estipulamos que personagem irão representar. Não pensamos só no cenário, pensamos num sentimento e em toda a história que irá pertencer à fotografia. Na última sessão, virámo-nos para a pessoa e dissemos-lhe: “Hoje, vais ser o Húngaro!”. Esta é uma das personagens do livro que é um pouco mais insegura e instável – a única mente dentro do livro que não é tão livre ou espontânea criativamente como as outras, logo o modelo tem de sentir esse peso. Esse é o nosso processo criativo.
Catarina: Sim, até porque de uma sessão resultam várias fotos. Fizemos uma sessão fotográfica ao ar livre, mas depois julgámos não ter conexão ou sentido com o livro, apesar de ser uma foto esteticamente bela que os leitores pudessem gostar e apreciar.
Continuadamente no tópico das publicações no Instagram, vocês apelam regularmente aos “desleitores”. Quem são? E por que razão o apelo?
Catarina: Um “desleitor” pode ser qualquer pessoa que queira deixar a sua interpretação na página, através dos comentários ou por mensagem privada ou, num nível mais avançado, quem se queira tornar num escritor. Nós damos espaço às pessoas para deixarem na página um texto seu, nem que seja uma frase. Acreditamos que os “desleitores” são muito importantes, porque tanto a poesia como a prosa não precisam de pertencer a um escritor único. Eu escrevi este livro, mas se, por exemplo, alguém achar que falta um ponto a acrescentar, e como é um livro de caráter ambíguo, pode fazê-lo nas várias páginas em branco que ainda podem ser preenchidas. O desafio é mesmo esse: chegarem à página e deixarem a sua marca e impressão ou até as suas dúvidas.
Larissa: Nós brincamos aqui com as palavras “desaniversário” e “desleitor”, garantindo maior liberdade às pessoas. Para além de leitores, podem ser mais que isso. Outra questão é que o livro ainda não foi publicado, mas as pessoas já estão a vivê-lo. O livro por publicar não é físico, mas quase omnisciente. Uma atmosfera a que as pessoas podem pertencer.
Qualquer um de nós pode tornar-se num “desleitor”? Há algum requisito?
Catarina: Eu diria que, talvez, o único requisito é querer fazer uma pausa na nossa página, num tempo superior ao que faria noutra página qualquer. O único requisito é desligar-se da ideia de rede social e entrar na nossa página, como se fosse uma galeria num sábado à tarde [risos].
Para finalizar, há mais ou menos um mês, vocês espalharam pela capital, vários papéis com o título do projeto e um código QR para que quem os apanhasse pudesse aceder à vossa página. Creio ser uma ideia criativa porque, não só garante atenção ao projeto, como, sem o saberem, estão a mexer com o dia de alguém que se cruze com os papéis. Qual o intuito por detrás desta iniciativa?
Larissa: Acreditamos que a arte é algo a ser partilhado. Criámos um pequeno formato de livro em branco e partilhámo-lo, como se o estivéssemos a publicar, brincando mais uma vez com a questão da publicação. Na verdade, não expusemos tudo, daí estar em branco, porque, para além de suscitar a curiosidade de quem o descobre, propõe à pessoa fazer esse momento de pausa e contemplação. É uma forma divertida de fazer uma certa propaganda e é, também, uma forma de alcançar públicos diferentes. O próprio título já provoca questões e acredito que quem encontre o papel na rua se pergunte sobre o que é o Desaniversário. Tem um código QR que podem utilizar e saber mais sobre a página. Para além das páginas em branco, deixámos um pequeno excerto pelo meio, assim a pessoa só o encontra se tiver a curiosidade de procurar e folhear o livro. É uma incerteza que propomos.
Catarina: Ao mesmo tempo, damos a oportunidade de a pessoa se tornar num “desleitor” e escrever algo nas páginas em branco, como se encontrasse um caderno pronto a ser preenchido.
Larissa: É verdade. Para além disto, a questão de partilhar estes papéis por diversos espaços é uma forma de fazer as pessoas pararem o seu dia, porque os deixámos em comboios, bibliotecas, entre outros. Acho uma ideia interessante, porque a pessoa pode levar o livro para casa ou deixá-lo no mesmo sítio para outra pessoa o encontrar.
Informação sobre as artistas:
Catarina Alhinha tirou a sua licenciatura na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa em Estudos Portugueses. De momento, está a escrever a sua tese de Mestrado em Estudos Portugueses, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, sobre Fernando Pessoa. Ao mesmo tempo, está a trabalhar como investigadora com uma bolsa da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) num projeto sobre contos de fadas. Para além do seu projeto Desaniversário, está, também, a tirar um curso profissional de Desenho.
Larissa Kansler tirou a sua licenciatura na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa em Arte Multimédia. Tem desenvolvido a sua carreira na arte de design e multimédia, apostando no design de identidade, ilustração e branding. A fotografia é um dos seus hobbies e detém maior interesse pela fotografia experimental.
Links Úteis:
- Página do Projeto Desaniversário: https://www.instagram.com/des.aniversario/
- Biografia de Catarina Alhinha: https://ielt.fcsh.unl.pt/en/team/catarina-alhinha-2/
- Portfólio de Larissa Kansler: https://www.behance.net/larissakansler
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